sexta-feira, 5 de abril de 2013

CRISTO PANTOCRATOR



Os Símbolos Litúrgicos


Em todas as civilizações e culturas e em todos os momentos da História, sabemos que a percepção humana é dependente de imagens e símbolos. O Homem percebe as coisas pela linguagem própria, viva e silenciosa das coisas e se situa - ele próprio - no mundo do mistério.

Nas realidades espirituais, não é diferente, nós buscamos a comunhão no mistério, que se dá sobretudo na linguagem silenciosa dos símbolos. De fato, os símbolos nos mostram, em sua visibilidade, uma realidade que os transcende, invisível. Falam sempre a linguagem do mistério, apontando para além deles próprios.

A própria Liturgia é descrita como uma ação simbólica, no seu sentido mais pleno. E isso se revela na beleza de todo o ato celebrativo que emana da alegria pascal.

Com isso percebemos o quanto é importante a linguagem misteriosa dos símbolos na Liturgia. E um símbolo por si só fala, não é preciso dar explicações. Até porque o mistério não é para ser compreendido e sim, vivido.

Vejamos então o significado de um grande símbolo religioso presente em nosso Santuário, que é o Pantocrator   "Cristo Luz do Mundo"



A palavra Pantocrator é de origem grega e significa "Todo-Poderoso" ou "Onipotente", mas a melhor tradução seria "Oniregente" ou "Aquele que rege todas as potências terrestres e celestes".
Existem cânones pictóricos, ou seja, regras para a pintura do painel.

O Pantocrator quando é representado de corpo inteiro e neste caso está sentado no trono e rodeado pelas hierarquias celestes que sublinham sua majestade divina. No nosso caso, temos a representação da Virgem Maria, Nossa Senhora do Carmo (percebam que Ela segura o escapulário), e Santo Elias, profeta - por ser o precursor da Ordem do Carmelo. Ainda estão representados ao lado de Cristo os Evangelistas.





O Pantocrator caracteriza-se pela auréola crucífera;










Neste ícone, a cor vermelha da roupa
representa que Ele é todo Deus, e o
manto azul que Ele é todo Homem e
assim nos assumiu por inteiro;

A faixa dourada, é quase uma estola,
o Sacerdote da Nova Aliança
pela mão direita que abençoa «à maneira grega»; e pela esquerda que segura um livro aberto ou fechado, ou mesmo um rolo. Quando o livro está aberto, o versículo evangélico que nele aparece é, as mais das vezes: «Eu sou a luz do mundo». Mas podem também aparecer outros versículos previstos nos manuais de pintura.


A estatura do corpo é a tradicional, já fixada no séc. VI, no tempo de Justiniano.

O rosto, para a tradição oriental, é o do Mandilion, considerado impresso pelo próprio Cristo na toalha enquanto ainda vivia (Santo Sudário).


Os traços podem ser resumidos assim: rosto alongado, sobrancelhas arqueadas, olhos grandes e abertos voltados para o espectador, nariz longo e delicado, a barba bastante longa terminando em ponta arredondada, bigode caído, cabelos ondulados que formam como uma cúpula sobre o alto da cabeça e são depois recolhidos à altura das orelhas e descem sobre os ombros (essa cabeleira é chamada, segundo Capizzi, «tipo capacete»). No alto da fronte - larga e alta - destacam-se muitas vezes, da cabeleira, dois, três ou mais cachos.


A forma circular do rosto lembra que Cristo é o
 Logus, ou seja, o Verbo Divino.
As roupas que cobrem o corpo de Cristo são constituídas de quatro peças, sendo três as mesmas usadas na Palestina no tempo de Cristo: a túnica vestida diretamente sobre o corpo, o manto, as sandálias, presas ao tornozelo por tiras de couro e a faixa que representa Cristo Sumo e Eterno Sacerdote.

O corpo de Cristo se destaca pela cor dourada de sua roupa, chamado na iconografia grega "céu" e no fundo em azul na forma de círculo para indicar que Cristo está na glória do Céu.


O círculo é símbolo do Universo, do todo, do infinito. Junto ao círculo está entrelaçado o quadrado, que simboliza o princípio material do Universo, é o símbolo da Terra.

O ícone transmite, assim, o dogma cristológico das duas naturezas humana e divina - unidas na única Pessoa do Verbo: Filho de Deus e Deus ele próprio, consubstancial ao Pai.

A auréola, chamada "coroa" e também "glória", desenhada com traço fino sobre o mesmo fundo dourado, é sinal da santidade de Jesus. Em todas as imagens de Cristo, na auréola estão desenhados três braços de uma cruz; esta, que se tornou comum no decurso do séc. VI desde o tempo de Justiniano, é uma clara alusão à dimensão salvífica do Senhor. Sobre o ícone estão presentes inscrições, cuja finalidade é chamar a atenção para a identidade divina e ao mesmo tempo humana do personagem representado.

O sagrado trigrama do nome de Deus revelado a Moisés no Sinai: Ο ΩΝ, "Eu sou o Existente" -  Ex 3, 14 - e inserido nos três braços visíveis da cruz introduzida na auréola.  Essas inscrições são sempre em grego.


A mão que abençoa

Na Igreja Oriental, sobretudo na bizantina, a bênção em grego ('euloghia') é reservada ao bispo ou ao sacerdote que a pronuncia para abençoar uma ou mais pessoas, ou um objeto, fazendo um sinal da cruz e pronunciando ao mesmo tempo uma breve fórmula de bênção. A fórmula de bênção mais simples reza assim: «Bendito o nosso Deus, em todo tempo, agora e sempre, e nos séculos dos séculos. Amém.»

Uma das mais solenes é a que o sacerdote dá no fim da liturgia eucarística: «A bênção e a misericórdia do Senhor desçam sobre vós com a sua graça e a sua benignidade em todo tempo, agora e sempre, e nos séculos dos séculos. Amém.»

Como se vê por esta e por outras fórmulas semelhantes, a fórmula não é indicativa: ou seja, o sacerdote não dá a bênção em nome próprio, mas transmite a bênção dada pelo próprio Cristo. Isto fica evidente no ícone de Cristo com a mão direita que abençoa.

A bênção é chamada «à maneira grega», na qual os dedos aparecem em posições bem precisas com significado simbólico, sobre o qual se detêm os manuais de pintura. O de Dionísio de Furná assim descreve a posição dos dedos da mão direita que abençoa e o sentido simbólico:

OS DEDOS LONGOS ACIMA LEMBRAM
QUE JESUS É HUMANO E DIVINO

OS OUTROS DEDOS JUNTOS LEMBRAM
A SANTÍSSIMA TRIANDADE, JUNTA.

OS DOIS DEDOS LONGOS TAMBÉM
 FAZEM REFERÊNCIA A PARTICIPAÇÃO
 DE  CRISTO COMO SEGUNDA PESSOA
DA TRINDADE.

«Quando fazes uma mão que abençoa, não unas os três dedos juntos, mas une o polegar com o anular apenas; o dedo chamado indicador e o médio formam o nome IC: com efeito, o indicador forma o I; o dedo médio curvado forma o C; o polegar e o anular que se unem obliquamente e o mínimo que está ao lado, formam o nome XC; de fato a obliqüidade do mínimo, estando ao lado do anular, forma a letra X; o mesmo mínimo, que tem forma curva, indica justamente por isso o C; por meio dos dedos, portanto, se forma o nome XC e por esse motivo, pela divina providência do Criador de todas as coisas, os dedos da mão humana foram modelados assim e não foram demais ou de menos, mas em quantidade suficiente para formar este nome.»

O clero bizantino abençoa ainda segundo o modo acima descrito

 

 

 

 

Nesta imagem, do Monastério de Santa Catarina, perceba que um dos olhos nos transmitem ternura e no outro a ira de Deus, próprio da Idade Média, mas em geral o olhar de Cristo é exigente, porque pede de nós postura, e com esse olhar Ele nos pergunta: afinal quem você é diante de Mim? Me diga, para depois descobrir que eu sou! 

 

 

 


Nada é por acaso, tudo tem é simbólico!

 

Se olharmos os ícones acima, percebemos que o pescoço está muito a amostra, não há golas nem mantos que cubram o pescoço!


Isso é um sinal  muito antigo: na antiguidade acreditava-se que o Espiríto Santo morava na garganta. Que o Espiríto Santo é o "ar de Deus que na nossa laringe nos ajuda a ter folêgo e articula em nós palavras de vida".

Por isso Jesus tem o pescoço muito a amostra, para dizer: "Aqui dentro eu carrego o Espírito Santo, eu respiro o respiro de Deus, meu folêgo é um folêgo divino".

Significado do Pantocrator segundo Dom Roberval Monteiro

O Painel "Cristo Luz do Mundo", do Santuário Nossa Senhora do Carmo é de autoria de Dom Roberval  Monteiro, religioso de Ponta Grossa - PR, que no ano 2000 venho especialmente para entregar o painel no dia da festa da padroeira.

Dom Roberval pratica a arte de pintar desde que entrou no mosteiro, em 1984, e é considerado um pintor especialista em arte bizantina.


"o sacerdote é um homem que comunica Deus para as pessoas e a pintura também faz isso de maneira mais durável, mais profunda que palavras ou ações, porque as minhas palavras ou ações vão passar, mas a pintura vao permanecer e vai sobreviver há muitas gerações"
Junto de Cristo, temos representados os elementos vitais - terra, ar, água e fogo - simbolizados por quatro animais que são uma representação extremamente antiga herdada do período antes de Cristo.

Os quatro animais simbolizam as quatro dimensões do ser humano:


" nós estamos acostumados com o ser humano em duas dimensões: corpo e alma."


Dom Roberval explicou que o homem é touro enquanto vive uma vida vegetativa: trabalha, bebe, dorme e produz. É a força, a vida. O leão representa a vida afetiva, é o homem capaz de sentimentos, de emoções, de paixões, de amor, mas tembém de coragem, de luta, de combate: o leão é nobre de espírito, de caráter, e a lealdade a diferencia do touro. O terceiro animal é a águia, que representa a vida intelictiva, a busca pela razão das coisas, o animal das alturas, que voa alto, que se questiona e nunca se cansa, mas também justamente por isso, vê longe, vê profundamente as coisas: a águia tem olhos agudos e precisos. E, finalmente, o quarto animal, o anjo, que representa o homem na sua relação com a divindade e que sente saudades do céu, saudades de Deus, independente da religião. Então o touro fornece as energias e a base; o leão ama e tem ímpeto; a águia busca as razões; e o anjo realiza a comunhão com Deus.

Para Dom Roberval, a pintura tem a função de ser um mapa de nosso interiror:

"É a tentativa de retomar esse tipo de pintura, mesmo com traços modernos, com técnicas modernas e tudo mais, é justamente de fornecer um mapa do nosso mundo inteiror, porque ainda que a gente não entenda e não use o mapa de uma cidade , só o gosto de saber que existe dá uma sensação de que, pelo menos me perder eu não vou. Esse é o mapa do nosso ser."




Pax Vobis!
(A paz esteja convosco!)






Um comentário:

  1. Excelente descrição Rafa.
    Bem completa mesmo, fico feliz em saber a quantidade de pessoas que vão entender melhor o painel do santuário.
    Parabéns e que Deus o abençoe a cada dia mais.

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